Que força da natureza, daquelas que atuam nos humores do homem, pode ser tão intensa quanto o sexo? Que outro clamor tem tal intensidade a ponto de fazer você virar o pescoço em situações inapropriadas, aproximar-se de pessoas visivilmente desinteressadas ou provavelmente desinteressantes? Que maneira há melhor de demonstrar uma afeição profunda e/ou uma paixão arrebatadora? Que atividade na vida pode ser realizada com tal despreendimento de si próprio? Que ação realizada por um ser humano pode ser tão inebriante a ponto de apagar momentaneamente o cansaço, os temores, os preconceitos, as diferenças de opinião, as inseguranças? Que outro esporte dá tanta saúde e confiança? Que frustração há maior que a de não poder entregar-se a quem o coração já se entregou? Que razão ou motivação faria deixarmo-nos à mercê dos prazeres de outro? Que outra oportunidade é tão clara de ceder, ou abandonar os cavalos de batalha?
Embora tendamos a nos esquecer disso, porque aprendemos com nossa cultura que o sexo não pode associar-se ao sagrado, uma das dádivas maiores de nossa criação divina (que creio ter obedecido às não menos divinas leis da evolução da natureza) é termos mantido essa porção animal de satisfação, que ainda não encontrou paralelos possíveis na vida cultural - é o que Freud diria. Fomos feitos para refletir, atuar, transformar, evoluir. Mas não poderíamos fazer nada disso se também não fôssemos feitos para amar e fazer amor - ações separáveis e por vezes separadas, mas irmãs de nascimento eternamente .